ZENTREVISTA: Caroline de Moraes

MISSÃO DE SERVIR

Conselheira clínica registrada no Canadá, onde reside, a brasileira Caroline de Moraes tem mais de uma década de atuação na área de desenvolvimento humano. Nascida em Nova Friburgo (RJ), possui sólida experiência no acompanhamento de pessoas em situações de estresse pós-traumático, ansiedade, depressão e crises psicoespirituais. Antes da experiência transformadora que a conduziu ao campo da psicoespiritualidade, Caroline, 44 anos, atuou no universo corporativo. Sua trajetória combina prática clínica, pesquisa e atuação social com foco no serviço ao próximo. Internacionalmente reconhecida, Caroline fundou a Rede de Emergência Espiritual Brasil, conhecida pela sigla SEN (Spiritual Emergence Network), parte de uma rede global dedicada ao acolhimento de emergências espirituais. Também é fundadora e CEO da Ilumina, clínica especializada em saúde mental e espiritualidade. Nesta entrevista ao JORNALZEN, Caroline — uma mulher contemporânea, sensível e determinada — compartilha um pouco de sua jornada.

Que jornada linda e desafiadora a sua... Qual foi a maior aprendizagem neste seu caminho de realizações e rupturas profundas?

Chega um momento em nossas vidas em que precisamos deixar de apenas ter esperança, para nos tornarmos a própria esperança. Esperança de coragem em um mundo marcado pelo medo, de bondade em meio à maldade, de amor em tempos de ódio. Quando nos tornamos essa esperança, nos empoderamos, mudamos de posição e passamos a agir de uma forma totalmente diferente no mundo. Minha jornada me ensinou que, mesmo nas maiores rupturas, é possível renascer com mais propósito e clareza, encontrando no próprio caminho a força para se reconstruir.


Pode compartilhar com nossos/as leitores/as o que aconteceu com você?

Há alguns anos, vivi uma experiência espiritual profunda, que se transformou em um trauma e em uma crise psicoespiritual. Tudo começou quando sofri preconceito em um ambiente religioso, o que me deixou fragilizada e desencadeou um período de grande dor. A partir daí, vivi cerca de três anos imersa em estados extraordinários de consciência e em uma série de fenômenos parapsicológicos. As experiências foram tão intensas que transformaram completamente minha vida e visão de mundo. Naquele momento, não sabia o que estava enfrentando. Foi um período em que literalmente “não ficou pedra sobre pedra”. Minha carreira mudou, meu país mudou, e tudo era novo para mim. Com o tempo, consegui integrar o que havia vivido, passei a reconhecer mudanças internas e profundas com autoconhecimento, autoaceitação e autoestima. Descobri um talento genuíno para ser terapeuta e despertei para a missão de servir à humanidade. Quando mudei para o Canadá, encontrei um espaço de acolhimento e compreensão sobre o que vivi. Tive acesso a profissionais, formações e comunidades que unem saúde mental e espiritualidade. Essa integração não apenas trouxe cura, mas também muita inspiração.


O que é esse movimento chamado Rede de Emergência Espiritual?

É um movimento internacional criado a partir das pesquisas, cujos achados mostram que muitas experiências que parecem patológicas (crises, estados não ordinários de consciência, manifestações espirituais) podem ser emergências espirituais com profundo potencial de transformação desde que sejam acolhidas. A SEN existe justamente para oferecer escuta qualificada, informação e suporte a pessoas que atravessam essas crises, bem como a familiares e profissionais de saúde que, muitas vezes, não sabem como lidar com tais vivências. A rede integra ciência, espiritualidade e saúde mental, e conecta quem sofre com profissionais e recursos capazes de promover cuidado integral. O SEN Brasil surgiu, primeiro, porque eu mesma vivi por três anos uma emergência espiritual que transformou radicalmente todas as áreas de minha vida. Segundo porque, no Brasil, milhares de pessoas vivem experiências espirituais intensas (crises místicas, manifestações mediúnicas ou que são confundidas com “doença mental”) sem ter acesso a um espaço seguro e informado para compreender o que lhes acontece. A Rede SEN Brasil é esse espaço adaptado à nossa realidade cultural, espiritual e social. Meu objetivo é ampliar o diálogo entre espiritualidade e saúde mental, para que cada vez menos pessoas sejam estigmatizadas em seus processos de despertar.


Você é conselheira clínica. Esse é um termo que não se usa no Brasil. Pode nos contar um pouco sobre seu trabalho nessa área e sobre como usa o Eneagrama?

No Canadá, um clinical counsellor é um profissional da área da saúde mental que atua como psicoterapeuta, oferecendo acompanhamento emocional e psicológico para pessoas em diferentes fases da vida. Minha atuação é dirigida ao cuidado informado pelo trauma, ou seja, levo em conta como as experiências dolorosas do passado impactam o presente do cliente, sempre com foco na segurança, no acolhimento e no fortalecimento interno. Integro a espiritualidade no processo terapêutico quando o cliente aceita. O Eneagrama me ajuda a compreender padrões de personalidade e de defesa de cada pessoa, facilitando tanto o autoconhecimento quanto o processo de mudança. A combinação da abordagem clínica, visão espiritualizada e uso do Eneagrama permite que eu ofereça um acompanhamento mais integral a cada pessoa.


O que faz para se manter saudável e feliz? Tem alguma prática espiritual ou voltada ao autoconhecimento que indicaria aos/às nossos/as leitores/as?

Sou uma pessoa neurodivergente, com altas habilidades e superdotação. Por isso sou hipersensível e respondo intensamente a estímulos. Precisei desenvolver um plano de autocuidado sólido ao longo dos anos. Sigo uma rotina de autocuidado que combina práticas corporais, mentais e espirituais. Faço ioga, caminhadas na natureza, meditações, respiração, desenho de mandalas e escrita intuitiva, atividades me ajudam a equilibrar minha energia, processar emoções e manter a conexão comigo mesma. Recomendo a todos terapia, muita terapia. Trabalhar o ego significa compreender nossas motivações, medos e padrões automáticos. A terapia é um espaço seguro de autoconhecimento e integração.


Como vê a proposta do JORNALZEN?

Extremamente relevante e necessária. “Informar para transformar” é uma missão que ressoa profundamente com o que acredito: o conhecimento e a reflexão têm o poder de gerar mudanças reais na vida das pessoas. Quando oferecemos informações que promovem consciência, autoconhecimento e bem-estar, estamos criando oportunidades para que cada indivíduo se conecte consigo mesmo e com o mundo de forma mais plena e consciente.


Que mensagem gostaria de deixar para os/as nossos/as leitores/as?

Façam tudo na vida com compaixão. Nunca sabemos o que o outro está carregando, por isso sejamos gentis e compassivos. Não esqueçam da autocompaixão. Não se critiquem, aprendam a se amar mais e a se aceitar.